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segunda-feira, 31 de março de 2014

Chamei ela de Vida ... capitulo 01 parte 01

  
 Era uma vez na Amazônia , na realidade , não faz tanto tempo assim ...
 Primeira semana de março de 2007. Eu havia começado vida nova ,  já faziam dois meses que estava trabalhando na joalheria de um hotel de selva , vivendo no coração da floresta amazônica  à 60 km distante de Manaus.
  Foi pela manhã , creio que deveria ser em torno de 10:00 h  porque ; Por ser um horário em que a maioria dos hóspedes encontra-se nos passeios , eu estava com a loja fechada , sentada na área do bar, admirando a bela paisagem  e desfrutando da companhia do Luka , um dos papagaios do hotel.
 O local é todo construído em palafitas , por este motivo tem muitas pontes e passarelas passando em meio à floresta
  A princípio não tive muita certeza do que eu estava vendo ... Se aquilo era um macaco , com certeza era uma espécie que eu nunca havia visto antes , nem mesmo em livros .
 Uma criatura tão vermelha que ; saudosa me fez lembrar da terra fértil do Paraná , vinha andando pelo corrimão da passarela , com medo , ou então , sem senso de direção , mas seguia devagar , rumo  ao prédio da recepção.  De onde eu estava pude observar as pessoas correndo para fotografar o animal que a principio pareceu ser tímido e desconfiado . Vi quando o gerente , mandou que buscassem bananas para alimentar a criatura que havia conseguido provocar um certo tumulto entre os presentes.  Eu por minha vez , pensei ; com certeza vou ver este bicho mais vezes , e fiquei onde eu estava . 
 Mais tarde , descobri tratar-se de uma macaca guariba e seu filhote que , segundo os comentários , a mãe  estaria muito doente e sem chance de sobreviver .
 Depois do almoço , ao invés de fechar a loja e ir para o meu quarto  , fiquei ali  nas imediações do bar e apostei no fato bastante conhecido , de que ,  se você alimenta um animal,  ele volta .  Demorou um pouco e já quase no final da tarde a minha paciência foi recompensada .   Devagar, andando no corrimão da passarela , outra vez, ela foi se aproximando do hotel . De novo ela causou alvoroço entre os presentes . Observei um pouco de onde eu estava , e então , curiosa aproximei-me devagar... Era de fato um belíssimo animal .
 Aconteceu muito rápido , antes que eu pudesse absorver os  detalhes do todo , ela olhou bem dentro dos meus olhos e  por uma fração de segundo , tudo parou no tempo e espaço .  Eu senti uma dor muito forte  no meu ouvido direito  , apavorada quis  gritar , mas o som morreu em minha garganta quando chocada percebi que a dor não era minha e sim da criatura cujo olhar aquoso parecia estar congelado no meu ... No instante seguinte tudo  estava outra vez em movimento e percebi então que de seu ouvido direito escoria um filete de pus amarelo .


Naquele momento o Gerente do hotel ia passando , corri atrás dele e perguntei se eu poderia pega-la para cuidar , mas o Sr. Roberto foi categórico . 
__ Você esta maluca ! 
__O IBAMA não permite , isto é ilegal!  
__Não é permitido prender animais silvestres ,mesmo que seja para cuidar e depois soltar, se alguém denunciar, além de multa pesada isto dá cadeia . 
  Sentindo-me  impotente ,  decidi  naquele momento , que faria o impossível para salvar a vida daquele animal.
Liguei para o IBAMA ,para saber da possibilidade de um possível resgate , onde fui informada que : Se o animal estiver na natureza , a natureza se encarrega , afinal , se um  morre , nascem dois. 
Nos dias que se seguiram , ela continuou voltando ao hotel , pela manhã e quase no final da  tarde e era sempre alimentada ...  aproveitando cada ocasião eu colocava meio comprimido de anti-inflamatório em um pedaço pequeno de banana , ela comia e depois voltava à floresta .



   Passaram alguns dias  e o animal parecia ter melhorado bastante  , mas ,  então ela parou de vir ao hotel .    As pessoas comentavam que muito provavelmente ela estaria morta , eu tinha certeza que não . Todas as manhãs e tardes nas horas em que a loja fechava , ao invés de ficar no meu quarto descansando , ficava de  plantão próximo ao bar e recepção . Cheguei até mesmo a  sair em sua procura pelas passarelas do hotel ... e nada , nem mesmo um vestígio de que ela realmente existiu . 
  Na manhã do quinto dia , quando eu já estava quase desistindo de esperar ,  vi quando ela , devagar andando no corrimão da passarela , aproximou-se outra vez do hotel.
 Corri para providenciar frutas e fiquei esperando próximo à recepção ... Foi horrível ver o estado precário em que ela se encontrava , a infecção havia piorado muito . Grosso pus amarelo esverdeado borbulhava de seu ouvido e caía em seu ombro fazendo os pelos caírem , parecia ser ácido . O seu leite tinha secado e o bebê de tão esfomeado parecia não ter forças para se segurar na mãe ,  com uma de suas mãos , ela o segurava apertando-o em seu peito tentando fazer com que ele se segurasse nela , como é de costume , mas , toda vez que ela soltava o bebê quase caía .
  Desesperada com a situação ,  fui atrás do Gerente do Hotel dizendo : 
__ Sr. Roberto !  Alguém tem que tomar uma providência, pois o bebê  dela esta morrendo de fome e ela vai morrer também e de forma lenta, ela esta sofrendo...
  Até hoje eu não tenho certeza se foi o Universo que  amoleceu o coração do Sr. Roberto , ou se , foram as grossas lágrimas que estavam ameaçando cair de meus olhos , muito provavelmente , foram as duas coisas e , finalmente ele  deixou que eu  tentasse  pega-la para cuidar. 
  Naquela mesma manhã ,  o marceneiro do hotel começou a construir uma gaiola onde o animal seria colocada depois de capturada . O ultimo comentário  do Gerente  sobre o assunto foi :
__ Se ela chorar e algum hospede perceber e chamar o IBAMA , eu vou dizer que você pegou ela escondida , que eu não sabia de nada .   Prender um animal silvestre  é  crime inafiançável , você sabe que pode ser presa . 
  Preocupada em não conseguir pega-la sozinha , ofereci cem reais para cada segurança do hotel , desde que eles a capturassem sem machucarem ela ou seu filhote ... 
  Só então percebi o quanto isto seria difícil .
  Os dois seguranças que estavam de plantão disseram  que eu era muito mais maluca do que eles poderiam imaginar .
   Perguntaram se eu tinha noção do que significava pegar um animal selvagem ?
__  Que ela os morderia com toda força e que ;
__ Eles poderiam ser infectados com alguma doença terrível , e que ;
__ O Gerente do Hotel devia estar louco quando concordou comigo .
  Enfim , percebi que teria que agir sozinha , só ainda não sabia como ... Então comecei a chamar pelo espirito da floresta , pedindo intuição. 
  Depois do almoço , fui falar com a enfermeira do hotel para saber se ela teria alguma coisa que pudesse , talvez , deixar o animal mais calmo e assim facilitar a sua captura , eu ainda não fazia ideia de como seria .  Saí do ambulatório com um comprimido  valium  de 0,25 mg .
  Durante à tarde daquele dia ela não foi vista ...  continuei pedindo ajuda ao Espirito da Floresta .
  Na manhã seguinte ela também não apareceu e , triste  pensei ter demorado demais em convencer o gerente .
  Creio que Luka sentiu minha dor e tentando me consolar grudou em mim  a manhã toda , no entanto , quanto mais amor  Luka demonstrava , mais eu sentia que tinha falhado ... 
  Arrasada depois do almoço fechei a loja ...  com Luka sentado em meu ombro ,  estava indo para o meu quarto .
  Luka  viu-a primeiro , com ciúmes gritou e voou , eu quase tropecei nela ... nunca antes ela havia passado do prédio da recepção e ninguém viu como foi que ela chegou ali , no entanto , lá estava . Sentada na frente da porta dos banheiros do bar , no caminho por onde eu teria que passar .... 
                                                             CONTINUA ...


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