Era uma vez na Amazônia , na realidade , não faz tanto tempo assim ...
Primeira semana de março de 2007. Eu havia começado vida nova , já faziam dois meses que estava trabalhando na joalheria de um hotel de selva , vivendo no coração da floresta amazônica à 60 km distante de Manaus.
Foi pela manhã , creio que deveria ser em torno de 10:00 h porque ; Por ser um horário em que a maioria dos hóspedes encontra-se nos passeios , eu estava com a loja fechada , sentada na área do bar, admirando a bela paisagem e desfrutando da companhia do Luka , um dos papagaios do hotel.
O local é todo construído em palafitas , por este motivo tem muitas pontes e passarelas passando em meio à floresta
A princípio não tive muita certeza do que eu estava vendo ... Se aquilo era um macaco , com certeza era uma espécie que eu nunca havia visto antes , nem mesmo em livros .
Uma criatura tão vermelha que ; saudosa me fez lembrar da terra fértil do Paraná , vinha andando pelo corrimão da passarela , com medo , ou então , sem senso de direção , mas seguia devagar , rumo ao prédio da recepção. De onde eu estava pude observar as pessoas correndo para fotografar o animal que a principio pareceu ser tímido e desconfiado . Vi quando o gerente , mandou que buscassem bananas para alimentar a criatura que havia conseguido provocar um certo tumulto entre os presentes. Eu por minha vez , pensei ; com certeza vou ver este bicho mais vezes , e fiquei onde eu estava .
Mais tarde , descobri tratar-se de uma macaca guariba e seu filhote que , segundo os comentários , a mãe estaria muito doente e sem chance de sobreviver .
Depois do almoço , ao invés de fechar a loja e ir para o meu quarto , fiquei ali nas imediações do bar e apostei no fato bastante conhecido , de que , se você alimenta um animal, ele volta . Demorou um pouco e já quase no final da tarde a minha paciência foi recompensada . Devagar, andando no corrimão da passarela , outra vez, ela foi se aproximando do hotel . De novo ela causou alvoroço entre os presentes . Observei um pouco de onde eu estava , e então , curiosa aproximei-me devagar... Era de fato um belíssimo animal .
Aconteceu muito rápido , antes que eu pudesse absorver os detalhes do todo , ela olhou bem dentro dos meus olhos e por uma fração de segundo , tudo parou no tempo e espaço . Eu senti uma dor muito forte no meu ouvido direito , apavorada quis gritar , mas o som morreu em minha garganta quando chocada percebi que a dor não era minha e sim da criatura cujo olhar aquoso parecia estar congelado no meu ... No instante seguinte tudo estava outra vez em movimento e percebi então que de seu ouvido direito escoria um filete de pus amarelo .
Naquele momento o Gerente do hotel ia passando , corri atrás dele e perguntei se eu poderia pega-la para cuidar , mas o Sr. Roberto foi categórico .
__ Você esta maluca !
__O IBAMA não permite , isto é ilegal!
__Não é permitido prender animais silvestres ,mesmo que seja para cuidar e depois soltar, se alguém denunciar, além de multa pesada isto dá cadeia .
Sentindo-me impotente , decidi naquele momento , que faria o impossível para salvar a vida daquele animal.
Liguei para o IBAMA ,para saber da possibilidade de um possível resgate , onde fui informada que : Se o animal estiver na natureza , a natureza se encarrega , afinal , se um morre , nascem dois.
Nos dias que se seguiram , ela continuou voltando ao hotel , pela manhã e quase no final da tarde e era sempre alimentada ... aproveitando cada ocasião eu colocava meio comprimido de anti-inflamatório em um pedaço pequeno de banana , ela comia e depois voltava à floresta .
Passaram alguns dias e o animal parecia ter melhorado bastante , mas , então ela parou de vir ao hotel . As pessoas comentavam que muito provavelmente ela estaria morta , eu tinha certeza que não . Todas as manhãs e tardes nas horas em que a loja fechava , ao invés de ficar no meu quarto descansando , ficava de plantão próximo ao bar e recepção . Cheguei até mesmo a sair em sua procura pelas passarelas do hotel ... e nada , nem mesmo um vestígio de que ela realmente existiu .
Na manhã do quinto dia , quando eu já estava quase desistindo de esperar , vi quando ela , devagar andando no corrimão da passarela , aproximou-se outra vez do hotel.
Corri para providenciar frutas e fiquei esperando próximo à recepção ... Foi horrível ver o estado precário em que ela se encontrava , a infecção havia piorado muito . Grosso pus amarelo esverdeado borbulhava de seu ouvido e caía em seu ombro fazendo os pelos caírem , parecia ser ácido . O seu leite tinha secado e o bebê de tão esfomeado parecia não ter forças para se segurar na mãe , com uma de suas mãos , ela o segurava apertando-o em seu peito tentando fazer com que ele se segurasse nela , como é de costume , mas , toda vez que ela soltava o bebê quase caía .
Desesperada com a situação , fui atrás do Gerente do Hotel dizendo :
__ Sr. Roberto ! Alguém tem que tomar uma providência, pois o bebê dela esta morrendo de fome e ela vai morrer também e de forma lenta, ela esta sofrendo...
Até hoje eu não tenho certeza se foi o Universo que amoleceu o coração do Sr. Roberto , ou se , foram as grossas lágrimas que estavam ameaçando cair de meus olhos , muito provavelmente , foram as duas coisas e , finalmente ele deixou que eu tentasse pega-la para cuidar.
Naquela mesma manhã , o marceneiro do hotel começou a construir uma gaiola onde o animal seria colocada depois de capturada . O ultimo comentário do Gerente sobre o assunto foi :
__ Se ela chorar e algum hospede perceber e chamar o IBAMA , eu vou dizer que você pegou ela escondida , que eu não sabia de nada . Prender um animal silvestre é crime inafiançável , você sabe que pode ser presa .
Preocupada em não conseguir pega-la sozinha , ofereci cem reais para cada segurança do hotel , desde que eles a capturassem sem machucarem ela ou seu filhote ...
Só então percebi o quanto isto seria difícil .
Os dois seguranças que estavam de plantão disseram que eu era muito mais maluca do que eles poderiam imaginar .
Perguntaram se eu tinha noção do que significava pegar um animal selvagem ?
__ Que ela os morderia com toda força e que ;
__ Eles poderiam ser infectados com alguma doença terrível , e que ;
__ O Gerente do Hotel devia estar louco quando concordou comigo .
Enfim , percebi que teria que agir sozinha , só ainda não sabia como ... Então comecei a chamar pelo espirito da floresta , pedindo intuição.
Depois do almoço , fui falar com a enfermeira do hotel para saber se ela teria alguma coisa que pudesse , talvez , deixar o animal mais calmo e assim facilitar a sua captura , eu ainda não fazia ideia de como seria . Saí do ambulatório com um comprimido valium de 0,25 mg .
Durante à tarde daquele dia ela não foi vista ... continuei pedindo ajuda ao Espirito da Floresta .
Na manhã seguinte ela também não apareceu e , triste pensei ter demorado demais em convencer o gerente .
Creio que Luka sentiu minha dor e tentando me consolar grudou em mim a manhã toda , no entanto , quanto mais amor Luka demonstrava , mais eu sentia que tinha falhado ...
Arrasada depois do almoço fechei a loja ... com Luka sentado em meu ombro , estava indo para o meu quarto .
Luka viu-a primeiro , com ciúmes gritou e voou , eu quase tropecei nela ... nunca antes ela havia passado do prédio da recepção e ninguém viu como foi que ela chegou ali , no entanto , lá estava . Sentada na frente da porta dos banheiros do bar , no caminho por onde eu teria que passar ....
CONTINUA ...
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